segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Manicomico SKY: Cap. 3: Você tem visitas

Posted by Hugo Alves Oliveira On 07:44 0 comentários

Leia antes os capítulos 0, 1 e 2

O informante tinha uma cara de acabado, as drogas X haviam levado sua vida e seus neurônios. Foi uma conversa rápida com, então, um pagamento justo; o viciado guardou o dinheiro e sumiu na escuridão. Logo este detetive perderá seu informante, pois o dinheiro pago por ele sacia o vício da droga; consequentemente, o informante terá uma morte magnífica, fazendo sexo com duas garotas lindas em uma hidromassagem com direito a champanhe, peixe grelhado, pimenta (?) a gosto — é claro, isto até queimar o seu último neurônio. Segundos antes de sua morte, perceberá que está sozinho deitado em uma calçada embaixo da ponte, faminto, molhado e cheirando a vômito. Tanto faz, é um viciado mesmo, ninguém vai sentir falta, então pague o informante e vá embora, o custo-benefício é bem menor do que levá-lo a uma clínica.
Os detetives continuam sua conversa atualizando as informações:
― O homem de quem estamos atrás é chamado de “O Grande”. Ele tem um bordel não legalizado em uma avenida na entrada do bairro Sergalo. ―, diz Silas, anotando em seu bloco de notas.
― O que o seu informante disse sobre ele? ―, perguntou Alex na direção.
― Ele marcou às nove e meia da noite com o distribuidor. Nós ainda temos meia hora.
Em seu laboratório, já terminando o processo de criação da X-19, Alan, com as mãos trêmulas, enche um copo de água, respira fundo e se senta em uma cadeira próxima à mesa.
“Por que eu não pensei nisto antes? A X-19 é uma fórmula ao contrário da X-0! Agora preciso esperar o líquido do frasco se misturar devagar e criar a pílula nova.”, pensa ele, sentado próximo a um pequeno funil onde caíam gotas e gotas de sua nova fórmula, gotas e gotas lentamente...
Gotas e gotas, no início eu não escutava o som que elas faziam. Mas, agora, cada gota que se choca com o fundo do frasco soa aos meus ouvidos como uma marretada na parede. A X-18 aumentou a minha audição de certa forma, que escuto certos detalhes de minha casa que normalmente nunca iriam chamar minha atenção. O som das cortinas balançando, do vento passando por elas, o bater de asas das moscas do cômodo ao lado. Minha vista esta mais aguçada, pela janela consigo ver quilômetros de distancia. Realmente, a X-18 é incrível!”
Enquanto Alan sente os novos sintomas da X-18, uma van estaciona na porta do prédio e dela descem quatro homens armados. Eles entram e sobem em direção ao apartamento de Alan.
“Já faz quinze horas que ingeri a X-18 e ela ainda esta fazendo efeito. Espere, algo chamou minha atenção. Escuto passos, passos lentos, subindo as escadas, vindo em minha direção, em minha casa, na minha porta. Vozes, escuto vozes e elas falam sobre mim. Não, não pode ser, eles estão aqui! Rápido, preciso destruir o estoque, as pílulas não podem cair em mãos erradas.”
Alan, em pé no meio do laboratório, tinha a intenção de chegar ao estoque, mas não conseguia se mover.
“Estou paralisado, sobe o efeito do eco! Por que justo agora? Parece que a X-18 também contem este efeito, meu raciocínio esta em câmera lenta, me faz lembrar de noites deitado na cama, pegando no sono e que, do nada, me sentia paralisado, não conseguindo mover qualquer parte do meu corpo, apenas respirar mais ofegadamente e movimentar os olhos. Eu não previa que isso poderia acontecer. Tenho que arrumar alguma maneira de cortar este efeito o quanto antes. Se me encontrarem aqui, irão me matar, se isto acontecer, eu falhei”.
Enquanto Alan se afogava em seus pensamentos sob o efeito da droga, os quatro homens invadem seu apartamento e vasculham os cômodos. O líder da quadrilha, que se chamava “Valez”, foi o único que seguiu direto para o estoque, parecia já conhecer o local. Outro homem encontra o laboratório, a porta já estava aberta, com passos suaves ele entrou, se espantou ao ver Alan no meio do laboratório todo sujo de sangue se cortando com um bisturi.
“Aquela sensação de quando você esta com tanta fome, que não consegue comer, quando você esta com tanto sono e não consegue dormir, com minha sensibilidade no máximo estou com tanta dor, mas não consigo sentir, sendo assim ela não me ajudara a cortar este efeito indesejável.”
― O corpo humano funciona sozinho, se protege contra nós mesmos quando estamos à beira da loucura. Você ainda tem muito que aprender, filho. ― Alan escuta a voz de seu pai vindo de algum lugar. Desesperado, leva as mãos aos ouvidos e grita:
― Não! Agora não. Saia da minha cabeça, pai, por favor!
Alan olha para a porta, apavorado. O homem invasor se assusta, olha para os lados, pensando que Alan estava se dirigindo a ele, mas percebe que o olhar estava vazio, o rapaz estava em outro mundo.
― Você não vai conseguir, filho. Chegou perto, mas não, não foi bom o bastante. ―, diz seu pai, em pé na porta, sem camisa e segurando uma garrafa de cerveja. ― Olha! Vou tentar ser um bom pai ao menos uma vez. Vou terminar a fórmula pra você.
Ele olhava seu pai mexendo nas substâncias, misturando, queimando, de certa forma refazendo com toda naturalidade enquanto tomava cerveja pelo gargalo.
Valez olhava o estoque e as anotações, quando foi chamado para ir ao laboratório. Ao chegar lá, dois de seus homens estavam parados na porta olhando Alan conversar sozinho e fazer movimentos insanos enquanto mexia nas substâncias dos frascos.
― Está louco de vez, acredito não ter mais salvação. Escutem: vão com o Bob no estoque, ajudem-no a colocar tudo na van. ―, diz Valez com um pequeno sorriso.
Depois de dar as ordens, Valez ainda olhou para Alan por mais alguns segundos e foi embora.
― Pai, a minha vida baseou-se em corrigir a sua, você esta me ajudando agora por quê? Está arrependido do que fez?
― Não! Eu só estou provando o quanto eu sou melhor que você. Preste atenção! Es... é... a ...cura...ma...use...
As palavras não estavam chegando aos ouvidos de Alan, seu pai estava sumindo. Aquelas últimas palavras eram muito importantes, mas se foram junto ao efeito da X-18.
Voltando a si, ele olha para suas mãos, as luvas vermelhas, sangue no chão, uma dor no braço, fome, sono e um espanto ao olhar a lousa. Nela estava escrito “X-20”. “O que seria esta X-20?”, perguntou-se. Ele trabalhava na X-19, que, inclusive, estava pronta sob a bandeja esperando o teste. Ele precisa se cuidar, a X-18 quase o matou. Pensou em ir ao estoque fazer curativos em seus ferimentos; foi o que fez. Andou rápido, apressado, queria voltar logo ao trabalho, mas parou ao ver que todo seu estoque havia sido levado. Esqueceu que tivera visitas enquanto estava fora de si. Isto não podia ter acontecido! Ele, então, sentou no chão, levou as mãos à cabeça e chorou.
Declínio
Continuação todas as sextas-feiras
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